Deferenças Entre Tristeza e Depressão
Conheça as diferenças entre tristeza e depressão
A tristeza é um sentimento passageiro. A depressão é uma doença e precisa de tratamento. Psiquiatra orienta como identificar os sintomas.
"... a tristeza é um fenômeno de causas externas, portanto ela ocorre, por assim dizer, de fora para dentro"
"... depressão consiste em um fenômeno interno, ocorre sem a influência de qualquer acontecimento"
Uma primeira observação é sobre a dificuldade que habitualmente se tem para distinguir entre depressão, *a doença, e tristeza, o estado de ânimo.
Muitas pessoas creem que se trata de uma questão de intensidade de emoção, ou de qualidade de sofrimento. Na verdade a distinção mais adequada diz respeito ao fato de que a depressão é um fenômeno interno, que se passa totalmente dentro do individuo, enquanto que a tristeza é um fenômeno de causas externas, portanto ela ocorre, por assim dizer, de fora para dentro. Nossas tristezas, tanto quanto nossas alegrias, surgem a partir de algum evento, ou grupo de eventos que ocorrem em nossa realidade externa.
Portanto, se estamos tristes porque algo ruim nos aconteceu, ou aconteceu a alguém de quem gostamos ou que de alguma forma nos é importante, estamos vivendo um momento de tristeza, embora muitos costumem se referir ao que sentem como sendo depressão. Um exemplo seria: “Estou deprimido porque o Flamengo perdeu”. Nesse caso, na verdade está se falando de uma tristeza, nunca de uma depressão. O mesmo se refere a acontecimentos mais graves como a morte de uma pessoa querida ou o final de uma relação amorosa.
Se tudo isto é tristeza, resta então dizer o que é depressão. Como assinalei a princípio, depressão consiste em um fenômeno interno, ocorre sem a influência de qualquer acontecimento. Pode ser difícil de se compreender isso, mas quem sentiu sabe bem o que seja acordar um belo dia e ter um sentimento de ruína, de mal-estar, de miséria, sem que nada haja acontecido que justifique o que se sente. Trata-se de uma dor incompreensível e a dificuldade de entender o que acontece ainda agrava o sentimento de mal-estar. Em grau leve ou moderado, quase todos nós já sentimos em algum momento da vida este mal-estar que surge sem motivo aparente, uma angústia que no invade de forma incontrolável, ou quase incontrolável.
Uma das razões para a confusão entre tristeza e depressão está relacionada ao fato de que os sintomas são semelhantes e o tratamento é muitas vezes praticamente o mesmo. A maioria dos remédios para depressão ajuda a combater a tristeza. Por outro lado, ainda existe a questão de que muitas vezes uma tristeza, ou seja a dor por algo acontecido, acaba desencadeando uma depressão que se percebe pelo fato de a tristeza se prolongar além de um limite razoável.
Tratamento para depressão e tristeza
Existem dois tipos de tratamento para a depressão e para a tristeza. O primeiro se baseia na prescrição de remédios antidepressivos. Esses atuam na bioquímica cerebral de formas variadas e com diferentes, mas eficazes, efeitos. A outra forma de tratamento consiste na psicoterapia, que pode ser exercida de formas muito diversas e cujo resultado depende da competência do terapeuta e de um relacionamento eficaz entre esse e seu cliente.
Embora alguns autores insistam na ideia de que um tratamento invalidaria o outro, minha experiência me tem mostrado que eles podem ter uma sinergia que potencializa o efeito positivo de ambos, com resultados melhores e mais rápidos.
Em princípio, a tristeza deve ser mais fácil e mais rápida de ser curada, mas nem sempre os fatos ocorrem como se espera. Antigamente se usava muito a expressão “depressão situacional” para os casos do que hoje prefiro chamar de tristeza enquanto que a depressão propriamente dita se dizia “endógena”. Hoje em dia se introduziu o conceito de bipolaridade para sublinhar um tipo particular de depressão que eventualmente se alterna com episódios de hiperforia, ou seja de uma euforia exagerada, tão exagerada quanto a depressão que pode acompanhá-la.
Concluindo, quero deixar uma palavra de esperança para aqueles que sofrem e para os que os acompanham. A medicina moderna, somada ao desenvolvimento da qualidade da psicoterapia, oferece a possibilidade de um alívio concreto e consistente tanto da depressão quanto da tristeza, embora por vezes os resultados levem tempo para se tornarem evidentes.
Devemos ser otimistas quanto à eficácia dos tratamentos propostos, mas é conveniente começar o mais rapidamente possível para diminuir o tempo da enfermidade e o sofrimento que ela causa. Temos todos os motivos para esperar que o sol volte a brilhar e a vida torne a ser saborosa e saboreável.
* Tecnicamente, depressão é uma doença. Não incluídos aqui pequenos episódios que todos nós já vivemos, pois creio que um pouco de depressão (leve) todos nós já tivemos. É meio complicado, mas medicina é assim mesmo. Coceira, por exemplo não é doença, mas pode ser, dependendo da intensidade.
A perda de um ente querido por morte, reprovação em um concurso muito esperado, rompimento de um relacionamento afetivo, demissão de um emprego, são experiências que deixam a pessoa triste, uma tristeza normal, que pode durar poucos dias ou semanas (dependendo do vínculo que a pessoa tinha com a outra, do tipo de personalidade dela, do significado emocional da perda, etc.), sem precisar remédio ou tratamento.
Se a pessoa demora a recuperar-se da tristeza, se sua produtividade cai muito, se começa a pensar só negativo, vindo frequentemente à cabeça idéias de morte, se perde a energia para trabalhar, se fica desinteressada por coisas que davam prazer, então ela precisa de um profissional para atendimento psicoterápico e avaliação da necessidade ou não de antidepressivo, devendo ser inicialmente um médico psiquiatra. Ele mesmo pode fazer o acompanhamento psicoterápico e medicamentoso, ou pode assumir somente o tratamento farmacológico e encaminhar a pessoa para uma terapia com um psicólogo clínico.
Se há na família desta pessoa caso(s) de suicídio e depressão, e se ela tem idéias suicidas, se já tentou suicidio no passado, ela precisa de atendimento urgente com profissional psiquiatra.
O tratamento da pessoa com tristeza temporária não envolve um profissional ou medicamentos, apenas, apoio, empatia, “dar um colo”, ouvi-la, confortá-la, e o tempo resolve. Se a pessoa está desenvolvendo um quadro depressivo (a tristeza não passa mesmo após vários meses do evento doloroso e ela cai em desânimo forte, tende a isolar dos outros, além dos sintomas acima), precisará da ajuda profissional para aprender a lidar com a dor de maneira construtiva, administrar os pensamentos para que eles não fiquem envenenando sua mente e se afundando mais ainda por nutrir idéias ruins, negativos, de desesperança.
O profissional procurará entender que tipo de personalidade é esta pessoa, o quanto ela está afetada pelas perdas sofridas, se teve depressão no passado, se é uma pessoa ativa ou passiva, se cultiva normalmente pensamentos positivos ou negativos, ou se sempre foi alguém melancólico que demora em meditações tristes, etc. Dependendo deste perfil, a pessoa poderá precisar de medicamentos antidepressivos por uns poucos meses além do apoio psicoterápico. A internação hospitalar só justifica se a pessoa estiver tão deprimida que não se alimenta, não sai da cama, não quer tomar banho, e tem idéias suicidas sérias no sentido de estar pensando acabar com a sua vida. Mas se ele consegue trabalhar, não pensa em suicídio, embora esteja triste e mais lento do que o normal, pode ser que baste o apoio psicoterápico sem precisar de medicação.
Existe a depressão leve, moderada e grave. A leve pode ser tratada em muitos casos só com terapia psicológica. A moderada e a grave necessitam de algum apoio medicamentoso por um tempo, talvez 3 meses, ou 6 meses, dependendo de várias coisas. A depressão grave pode ocorrer com uma perturbação grave da percepção da realidade, ou seja, além de deprimir a pessoa pode apresentar também sintomas psicóticos, como alucinação, delírios, desorientação no tempo, no espaço e quanto a si mesma, e requer medicamentos específicos contra os sintomas psicóticos, além do antidepressivo.
Fonte: vyaestelar/luizalbertopy - e Dr. César Vasconcellos de Souza
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