Psicopatia







A psicopatia se desvela como um tipo de comportamento social em que os sujeitos são desprovidos de consciência moral, ética e humana, possuem atitudes descompromissadas com o outro e com as regras sociais, caracterizam-se por uma deficiência significativa de empatia. O seguinte artigo tem a finalidade de ampliar as visões acerca da psicopatia, a fim de esclarecer os processos intrínsecos que perpassam tal comportamento, visando fazer uma diferenciação entre o perfil de um psicopata e o transtorno de personalidade antissocial. O estudo ainda objetiva conhecer as ferramentas utilizadas para avaliar o perfil psicopático, assim como discutir se os métodos de tratamento podem ser eficazes nesse contexto.  A psicologia forense ajudará o sistema judicial no reconhecimento e no manejo com esse fenômeno tão discutido na contemporaneidade.
Palavras-chave: Psicopatia, Transtorno de Personalidade antissocial, Psicologia forense

Considerações Iniciais

Ao pensarmos em psicopatia, temos a idéia de que os indivíduos que possuem esse perfil apresentam comportamentos, traços e atitudes característicos e que seria muito fácil reconhecê-los na prática. Entretanto, os psicopatas enganam e representam situações de forma muito bem articulada, passando despercebidos aos olhos da sociedade.
A psicopatia é um tema muito significativo no campo da psicologia forense, já que seus portadores estão quase sempre envolvidos em atos criminosos ou em processos judiciais. Essa terminologia é a mais usual e conhecida no senso comum, mas pode receber outras denominações, bem como sociopatia, personalidade antissocial, personalidade psicopática, personalidade dissocial, dentre outras.
Os indivíduos que desenvolvem esse comportamento são desprovidos de culpa, remorso, sensibilidade e senso de responsabilidade ética, são pessoas de todos os extratos sociais, homens, mulheres que estão infiltrados nos mais diversos contextos culturais e sociais.
Os psicopatas possuem níveis de gravidade, dentre eles: leve, moderado e grave. Podem praticar desde atos menos danosos, pequenos golpes ou roubos, até um perfil que utiliza métodos mais brutais e violentos, podendo cometer crimes hediondos de alta complexidade.
Àqueles sujeitos com tendência psicopática possuem uma deficiência significante de empatia, isto é, não têm habilidade de se colocar no lugar do outro; são indiferentes aos sentimentos e sofrimentos de outrem, não se sentem constrangidos ao mentir e não sentem nenhum remorso ao serem desmascarados.

Conhecendo a Psicopatia

Uma breve revisão da história da humanidade é capaz de revelar duas questões importantes no que tange à origem da psicopatia. A primeira delas se refere ao fato de a psicopatia sempre ter existido entre nós. [...] A segunda questão aponta para a presença da psicopatia em todos os tipos de sociedades, desde as mais primitivas até as mais modernas. Esses fatos reforçam a participação de um importante substrato biológico na origem desse transtorno. No entanto, não invalidam a participação significativa que os fatores culturais podem ter na modulação desse quadro, ora favorecendo, ora inibindo o seu desenvolvimento. (SILVA, 2008).
A psicopatia é utilizada para especificar um constructo clínico ou uma forma específica de transtorno de personalidade antissocial que é prevalente em indivíduos que cometem uma variedade de atos criminais e geralmente se comportam de forma irresponsável (Hemphill e Hart apud Huss 2011).
Embora os termos psicopatia e transtorno de personalidade antissocial estejam relacionados, esses constructos possuem muitas diferenças que devem ser ressaltadas. O transtorno de personalidade antissocial está presente no Manual de diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais-IV (DSM-IV TR) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). A psicopatia não está incluída em nenhum desses manuais, o (DSM-IV) apresenta o transtorno de personalidade antissocial ressaltando os critérios comportamentais, no entanto, a psicopatia não é só desenvolvida por questões comportamentais, mas também interpessoais e afetivas.
O DSM-IV TR utiliza os seguintes critérios para classificar um indivíduo como portador de personalidade antissocial: incapacidade de se adequar às normas sociais; propensão para enganar, usar nomes falsos ou ludibriar os outros; impulsividade ou fracasso para fazer planos para o futuro; instabilidade e agressividade; desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; irresponsabilidade consistente; ausência de remorso.
A psiquiatria forense não caracteriza a psicopatia na visão tradicional de doença mental, visto que o sujeito não apresenta nenhum tipo de desordenação, desorientação ou desequilíbrio, ou seja, não manifestam nenhum tipo de sofrimento psicológico.
Esse tipo de transtorno específico de personalidade é marcado por uma insensibilidade aos sentimentos alheios. Quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afetiva, ele pode adotar um comportamento criminal recorrente e o quadro clínico de transtorno de personalidade assume o feitio de psicopatia (MORANA, 2012).

Processos de Avaliação da Psicopatia

A psicopatia é entendida atualmente no meio forense como um grupo de traços ou alterações de conduta em sujeitos com tendência ativa do comportamento, tais como avidez por estímulos, delinqüência juvenil, descontroles comportamentais, reincidência criminal, entre outros. É considerada como a mais grave alteração de personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia são responsáveis pela maioria dos crimes violentos, cometem vários tipos de crime com maior freqüência do que os não-psicopatas e, ainda, têm os maiores índices de reincidência apresentados. (AMBIEL, 2006).
Na década de 1980 existiram alguns problemas nos estudos da psicopatia, faltava um método padrão para avaliar com maior precisão e fidedignidade, o que tornava difícil comparar os resultados dos estudos que se propunham em esclarecer e tomar consciência dos processos psíquicos que norteiam esse comportamento.
Para avaliar e diagnosticar um indivíduo com característica psicopata é necessário ter consciência de quão complexo é esse fenômeno. Robert Hare, um dos principais especialistas em psicologia moderna dando ênfase na psicopatia, criou um método de operacionalização desse tema através do inventário da psicopatia.
Robert Hare é frequentemente creditado como o responsável pela explosão das pesquisas durante as últimas décadas devido à sua criação da medida de psicopatia mais amplamente utilizada, o Psychopathy Cheklist (PCL) e o atual Psychopathy Cheklist Revised (PCL-R). (HUSS, 2011).
Embora esse não seja o método único de avaliar a psicopatia o PCL-R tornou-se a medida padrão de conhecimento. O PCL-R compõe-se de 20 itens que podem ser divididos em dois grupos. Os psicólogos forenses são responsáveis por marcar as alternativas que estão presentes e identificar se o sujeito apresenta características significativas de psicopatia.

Existe Tratamento para a Psicopatia?

Muitas discussões foram levantadas a respeito da recuperação dos psicopatas, porém, ainda não existem comprovações tão efetivas que afirmem com precisão que eles podem, de fato, se recuperar após um tratamento psiquiátrico ou psicológico.
Conforme (Chekley apud Huss 2011) os psicopatas não tinham a capacidade formar vínculos emocionais para uma terapia efetiva e, portanto, não se beneficiaram dela.
Os psicólogos forenses apresentam questionamentos sobre se é realmente possível tratar indivíduos nessa condição, por existir essa crença tão arraigada de que os psicopatas têm uma deficiência na capacidade de formar vínculos, o que, consequentemente, impossibilita em resultados positivos no processo terapêutico.
Conforme (Ogloff, Wong e Greenwood apud Huss 2011) que realizaram um estudo com 80 prisioneiros federais inscritos em um programa de tratamento. Seus resultados mostraram com consistência que os psicopatas demonstravam menor melhora clínica, eram menos motivados e abandonavam o programa antes dos não psicopatas.
Poderá haver expectativas para o futuro, já que vários profissionais especializados se detém em pesquisar estratégias que poderão dar uma visão mais abrangente do caso, apontado componentes para o manejo e reinserção desses indivíduos no meio social.

Considerações Finais

Os estudos revisados nesse artigo nos possibilitam ter uma noção mais aprofundada do conceito de psicopatia que se inter-relaciona com o transtorno de personalidade antissocial, no entanto, possui suas particularidades. É fundamental destacar que os processos de avaliação são instrumentos que identificam através de pesquisas os fatores subjacentes que aumentam o nosso conhecimento sobre a área. E os métodos de tratamentos psicológicos, biológicos ou medicamentos ainda não mostraram resultados eficazes na possível recuperação dessas pessoas. A psicopatia é um dos problemas mais importantes do sistema judicial e utiliza a psicologia forense para auxiliá-la no esclarecimento e discussão do comportamento desse homem que para muitos ainda é uma incógnita.


Fonte: Psicopatia Conceito, Avaliação e Perspectivas de Tratamento - Psicologia Forense - Atuação - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-forense/psicopatia-conceito-avaliacao-e-perspectivas-de-tratamento?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+Psicologado_Artigos+%28Psicologado+Artigos%29#ixzz21mXXs1Rm

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